No ano de 2020 percebemos um aumento considerável de pessoas que buscaram uma aproximação com o mundo “outdoor”, trazendo uma maior movimentação nas trilhas de várias regiões do país.
Aqui, no RS, em locais onde costumávamos fazer trilhas e escaladas praticamente sós, passamos a avistar diversos “caminhantes”, muitas vezes sem a mínima noção de segurança durante a prática da atividade.
Da mesma forma, percebemos um aumento na circulação de vídeos de resgates com o uso de helicópteros e como essas operações fazem parte do meu dia-a-dia de trabalho, achei interessante escrever um pouco sobre o assunto.
E você, sabe quais as técnicas que podem ser utilizadas para a retirada de uma vítima, ou de uma equipe, que se encontrem em um local de risco ou de difícil acesso?
Se pensarmos em uma situação que não possibilite o pouso da aeronave, basicamente, essas evacuações podem ser efetuadas com a utilização de três técnicas, o embarque em baixa altura, o uso do Hoist (guincho) e o “McGuire”.
Embarque em baixa altura
A técnica de embarque em baixa altura pode ser empregada quando uma aeronave pode aproximar-se do solo o suficiente para acessar a vítima/equipe, porém, pelas características do local, não há possibilidade de efetuar um pouso seguro para o embarque, por ser em um terreno alagadiço, rochoso ou com grande desnível.
O embarque pode ser de uma vítima ativa, imobilizada em uma maca ou de integrantes de uma equipe que necessitem apenas de retirada de um local de difícil acesso, sendo que, em ambas as possibilidades, deve haver treinamento prévio ou orientações específicas aos envolvidos para uma operação segura.
Hoist (guincho)
O “Hoist” consiste em um guincho elétrico instalado em uma aeronave. A operação de evacuação com o guincho depende das características técnicas específicas de cada equipamento instalado uma vez que há diferentes limitações de peso dentre os modelos disponíveis.
Esse equipamento possibilita que a evacuação seja executada com a acoplagem de equipamentos acessórios, sendo os mais comuns a conexão em uma “cadeirinha” (arnês, Baudrier), triângulo de evacuação, maca, sling ou cesto de resgate. Trataremos sobre esses equipamentos mais adiante.
A principal característica da evacuação com o uso do hoist é a possibilidade de embarque da vítima/equipe, evitando a exposição decorrente do deslocamento na parte externa da aeronave, como ocorre quando utilizada a técnica McGuire.
McGuire
A técnica McGuire foi criada pelo Sargento-major Charles T. McGuire, durante a guerra do Vietnã, durante operações do “Projeto Delta”, em missões de reconhecimento de longo alcance, nas quais utilizavam-se helicópteros para infiltrar e evacuar as equipes.
A plataforma criada pelo Sargento-major McGuire consistia (em termos práticos) em uma fita de nylon com pouco mais de 76 mm de espessura com uma alça na qual os combatentes podiam sentar-se, havia duas alças para apoio das mãos e pontos de ancoragem para encaixe das suas mochilas. Essa fita era amarrada em uma corda de nylon com 12mm de espessura, a qual era ancorada na aeronave.
A plataforma mostrou-se extremamente pratica e eficaz à época, porém a “viagem”, mesmo que durasse poucos minutos, era extremamente desconfortável.
Atualmente, denominamos “McGuire” os procedimentos de evacuação nos quais utilizamos um “estropo” (corda com alças nas extremidades) para içamento de carga externa (humana) com uso de helicóptero, e dispomos de diversos equipamentos os quais utilizamos para a conexão com a vítima/equipe, possibilitando uma operação de evacuação mais segura e confortável (ou menos desconfortável, em alguns casos).
Cinto de resgate (Sling)
O cinto de resgate é um equipamento de utilização prática e rápida, podendo ser empregado em ambientes terrestres e aquáticos, sendo indicado em situações onde não há necessidade de imobilização da vítima e onde a utilização de outros equipamentos possa trazer riscos por “enrosco” (mata fechada, rios com galhos e no mar quando próximo a pedras), bem como é preferível que o deslocamento seja por breve período, visto que o equipamento é um tanto desconfortável, por trabalhar com pressão sobre o tórax.
Triângulo de Evacuação
O Triângulo de Evacuação, assim como o cinto, possui praticidade de utilização, necessitando de um mosquetão para conexão das três alças de ancoragem ao estopo e é indicado para evacuação quando não há necessidade de imobilização da vítima, não indicado para resgate em ambiente aquático. Já o deslocamento com o equipamento é muito confortável quando comparado com o “sling”, funcionando como um tipo de cadeirinha.
Puçá
O puçá é um equipamento muito versátil, seguro e de fácil operação, desenvolvido inspirado nas “cocas” para pesca, é indicado para resgates em meios terrestre e aquático. Trata-se de uma espécie de cesto, onde uma rede é conectada a um aro metálico, envolto em material flutuante, no qual a vítima é acomodada e retirada do local.
O equipamento não é indicado em casos de trauma, onde a estabilização da vítima seja necessária, bem como em áreas que, por suas características, proporcionem risco de enrosco da rede.
Pela sua praticidade, é o equipamento mais utilizado em resgates aquáticos no litoral brasileiro, sendo possível a evacuação de até três pessoas em uma única operação.
Maca
A maca é o equipamento indicado para evacuação de vítimas com suspeita de trauma, que necessitem de imobilização para evitar o agravamento do quadro. Há diversos tipos de maca que podem ser utilizadas para evacuação com uso de helicópteros, sendo mais indicadas as com estais para ancoragem.
Quando pensamos em uma evacuação com uso de helicópteros, sobretudo quando se trata de um resgate, devemos avaliar diversas possibilidades que vão além da simples retirada de uma vítima da situação de risco, deve-se dar a devida atenção à segurança de voo, treinamento da equipe, situação física e psicológica da vítima, emprego correto dos equipamentos à situação apresentada e devida análise dos riscos envolvidos no caso concreto, ao custo de trazer prejuízos irreparáveis a todos os envolvidos.
Fonte (McGuire):