Aprendendo “nós”, quanto mais, melhor?

No ano de 2004, durante o serviço militar, tive meu primeiro contato com o manuseio de cordas e foi quando pratiquei rapel e escalada pela primeira vez, consequentemente, foi quando passei a aprender fazer nós.

Na época pensava que tinha que “decorar” tudo, que quanto mais nós soubesse, mais preparado eu estaria, de fato, não estava errado, ao menos não pela parte de “decorar tudo”, pois ainda dependíamos muito de alguém que nos repassasse o conhecimento, uma vez que não o tínhamos, literalmente, na palma de nossa mão, como na realidade atual.

Nesses anos que sucederam, com mais experiência, surgiram oportunidades de repassar os conhecimentos que adquiri. Com tempo curto para muita prática, eis que me pergunto “quais nós realmente temos que saber?”. A conclusão que cheguei foram nove nós, os quais dividem-se em nós para ancoragem, nós blocantes, nós para emendar cordas e nós de segurança.

Nós para ancoragens

Fugindo do tecnicismo da palavra, constituem o grupo os nós que formam uma alça utilizada para fixar uma corda em um ponto, seja uma ancoragem natural (árvore), uma parada ou um escalador à corda.

Nó azelha em oito

Sem dúvida um dos mais conhecidos, é um nó seguro, de fácil confecção, pelo seio ou guiado, e relativamente fácil de ser desfeito quando submetido à cargas, possui uma perda de resistência da corda entre 20% e 30%. Geralmente é utilizado para ancoragem ou para prender o escalador à corda, nesse caso, feito “guiado”, prendendo a corda diretamente na cadeirinha (sem intermédio de um mosquetão).

Nó Borboleta alpina

Considero-o indispensável para quem se aventure em qualquer atividade vertical. embora possua diversas funcionalidades, dentre as quais ressalto as que já pus em prática. 1. isolamento de seção danificada da corda; 2. dar segurança ao segundo e terceiro utilizando corda única; 3. extensão da parada para dar segurança de cima; 4. desvio de força (por ser multidirecional, aceita carga em todas direções).

“Borboleta” utilizado em ancoragem móvel (Morro das Cabras – Sapucaia do Sul/RS)
“Borboleta” utilizado para estender parada. (Via Sem medo de ser feliz – Caçapava do Sul/RS)

Nós Blocantes

O nó blocante é feito prendendo um cordelete (acessório) em “loop” (com as duas pontas unidas) à corda principal. das funcionalidades dos cordeletes, bem como dos blocantes, destaco os que faço uso.

Prussik

Assim como o Borboleta, considero-o um nó de segurança importantíssimo uma vez que é bidirecional (mantém o bloqueio em todas direções) e largamente utilizado para ascensão em corda fixa em procedimentos de auto resgate, substituindo (os caros e pesados) ascensores de punho. Além disso, também é indicado para a montagem de “ancoragens de fusível”.

Prussik utilizado para em ascensão em corda fixa (Via “Que a força esteja com você” – Morro das Cabras – Sapucaia do Sul/RS)

Marchard

O Marchard pode ser feito de duas formas, bidirecional ou unidirecional. mesmo considerado um substituto do Prussik, utilizo-o unicamente como backup do rapel auto segurado (estendido).

Marchard utilizado no rapel auto segurado (Via “Presságio” – Morro das Cabras – Sapucaia do Sul/RS)

Nós para emenda de cordas

O grupo é composto por nós utilizados para união de cordas, seja para efetuar um rapel mais longo ou para fazer um loop com um cordelete, trago aqui 3 nós e as situações específicas nas quais os utilizo.

Pescador duplo

Embora possa ser utilizado para união de duas cordas de mesmo diâmetro, utilizo-o apenas na união das duas pontas de um cordelete para a formação de “loop” e, posteriormente, utilização da confecção de prussik, marchard, estribos e outros usos do acessório.

Cordelete em “loop” unido por “pescador duplo” (Via “Minuano” – Morro das Cabras – Sapucaia do Sul/RS)

Nó cavalcante

também conhecido como “agulha”, é utilizado para a união de duas cordas na montagem de rapel, tem como principal característica a facilidade de passar por obstáculos durante a recuperação da corda.

Nó “cavalcante” utilizado para recuperação de corda em rapel

Nó de fita

Confesso que atualmente com a larga utilização de fitas unidas por costura, o nó tornou-se cada vez menos utilizado, mas ainda sim, considero-o importante, podendo ser utilizado, por exemplo, no reaproveitamento, mesmo que momentâneo, de uma fita avariada durante a atividade.

Nó de fita unindo uma fita tubular

Nós de segurança

Com o perdão da aparente redundância (visto que os nós até aqui vistos nos proporcionam segurança, bem como também tratei como “nó de segurança” o “Borboleta” e o “Prussik”), trago aqui dois nós muito utilizados na escalada mas que proporcionam segurança nas diversas possibilidades de atividades verticais.

Meia volta do fiel

Também conhecido como nó UIAA é de necessário conhecimento para quem se aventure nas alturas, tento, dentre outras, as principais funções de substituto do descensor “freio” (no caso de uma queda acidental, por exemplo) e na segurança desde a parada do segundo escalador.

Exemplo de segurança da parada com “UIAA”

Nó fiel

Embora também seja considerado como nó de ancoragem, ressalto a aplicação como uma solteira regulável ou, até mesmo como backup da solteira do escalador, proporcionando agilidade e segurança durante a atividade.

“Fiel” utilizado como backup da solteira (Via “Ares de zimbros” – Morro do Macaco – Bombinhas/SC)

Afinal Quanto mais nós aprendermos, melhor? Se entendermos a máxima de que “conhecimento não ocupa espaço”, a resposta é sim. Porém, deixo aqui a sugestão de aprendizado desses nove, sim, apenas nove nós que, certamente, proporcionarão mais segurança para suas atividades.

Obs1.: O presente artigo não tem o objetivo de esgotar o assunto, que sem dúvida se faz muito mais amplo do que essas poucas linhas, bem como não há pretensão de ensinar a confecção dos respectivos “nós”.

Obs2.: O aprendizado de “nós” são apenas meios para o desenvolvimento das diversas técnicas onde são empregados, portanto, busque o aprendizado e treine o máximo possível, só assim o conhecimento realmente irá tornar-se sólido.

Sobre o Autor

Alexandre Bered
Alexandre Bered

Operador Aerotático do RS, instrutor de operacões em altura e resgate aéreo da Brigada Militar do RS.

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