VIAS MAIS DURAS DAS CABRAS

Durante os encontros com escaladores nos setores do Morro das Cabras percebemos a curiosidade dos praticantes que não são frequentadores mais contumazes do point sobre graduação das vias. Então aí vão algumas informações e curiosidades sobre as vias e projetos mais difíceis do local.

Antes de tudo , esclarecemos que no local predomina as vias de entre VI e VII graus, com poucas vias de VIII e IX, com um estilo ceracterístico, de vias curtas, verticais, com crux bem definidos e concentrados e com predomiância de regletes.

Desse modo, iniciaremos pelas vias de VIII grau, seguindo até os projetos ainda aguardando as primeiras ascenções.

“Darth Vader” VIIc / VIIIa

A via localizada no setor leste, na “caverninha”, é uma variante que começa na via “Não tente, faça ou não faça, tentativa não há” VIIc, seguindo pela linha até a 4º proteção, seguindo à esquerda e conectando na via “O despertar da força” VIIb, seguindo até a parada.

A linha é negativa, em uma diagonal para a esquerda exigindo bastante força e resistência do escalador.

FA: Flubber

Flubber na “Darth Vader”

“Freedom” VIIIb

A idealização da via iniciou enquanto eu e a Fernanda abriamos a via “Master” VI, no platô do setor oeste. Lembro claramente de subir no platô, olhar para baixo e visualizar a linha, que para mim já parecia perfeita. Alguns dias depois retornamos ao morro e colocamos a parada. tirei alguns movimentos em top rope, mas sem isolar tudo.

Como sempre equipamos as vias do point com proteções fixadas com químico retornamos após alguns dias (após a secagem) para finalizar o trabalho. No dia em que retornamos para equipar a linha já tiramos quase todos os movimentos e próximo as melhores agarras planejamos as colocações das proteções. “Sikamos” uma agarra chave que estava quase quebrando e finalizamos o trabalho.

A primeira ascenção da via foi feita pelo Tiago Mohr, eu demorei um pouco para isolar o primeiro crux, mas pouco tempo depois, saiu.

A ideia inicial da via era fazer a virada do tetinho, mas como a proteção daquele ponto estava um pouco à direita, permitia uma mudança na linha, desviando o crux, então posteriormente reposicionei a 3ª proteção, mantendo a linha originalmente idealizada.

FA: Tiago Mohr

“Ilusão de Poyais” VIIIc

Desde que começamos a explorar as paredes do setor leste já avistava a saída da via, Na época olhei aquele buraco no teto que tem logo no início da via e dizer “ali pega de invertiva, vai para o agarrão e vira o teto, mais pra cima, tirando aquelas sujeiras, com certeza terá um monte de agarras escondidas”… e daí surgiu o nome da via.

A história do nome remete ao país fictício que se tornou uma das maiores fraudes da história. E para quem gosta dessas curiosidades, aí vai um brevíssimo resumo dessa história.

No séc. XIX um impostor chamado Gregor Mcgregor, se dizendo príncipe do suposto Reino de Poyais, local onde ele possuía uma grande quantidade de belas terras. O local era descrito como um verdadeiro paraíso, de modo que a única coisa que a terra realmente precisava era de pessoas para colonizá-la.

MacGregor vendeu centenas de lotes de terras no reino e chegou até a criar um dinheiro falso de Poyais, o qual ele posteriormente trocou pela moeda de verdade dos colonos interessados. Centenas de pessoas (ricas e pobres) caíram na conversa do vigarista e decidiram investir em Poyais. Em 1822, cerca de 240 pessoas partiram para Poyais em dois navios. Quando chegaram lá, obviamente não encontraram o paraíso que MacGregor. para saber a história completa, clique aqui.

Bem, como se pode imaginar as agarras que se eu pensava existir, não estavam lá quando fomos equipar a via.

Assim que finalizada, consegui isolar os movimentos e logo, junto com o Flubber, começamos atentar a cadena. estávamos com os movimentos bem isolados, mas ser uma linha muito técnica, de agarras bem pequenas, era difícil de conectar tudo. mesm assim pensávamos que ea graduação estaria na faixa de VIIIc.

No início de janeiro de 2022 o Flubber e a Tatá foram para uma trip na serra do cipó e acabei mandando a via com a seg. do Fabiano. Assim que encadenei o projeto mandei mensagem para ele, com o vídeo da cadena, e ele como sempre, ficou “empolgadaço” com a minha cadena – “incrível, tio”. Infelizmente ele não retornou da trip e perdemos um grande amigo e escalador.

Acabei graduando a via em VIIIc, mas como ainda não houve uma segunda ascenção, aguardamos confirmação do grau.

“CPF na nota” IXa

A via “CPF na nota foi uma idealização do escalador Iverson Angonese, o acesso é feito pela trilha que vai para o platô do setor oeste, seguindo em frente após o setor , passando embaixo da pedra do índio, em direção à gruta.

De fácil visualização, a linha segue numa linda placa com poucas agarras. Possui uma movimentação única em agarras que exigem muita técnica e força. Sem dúvida é uma excelente briga para quem gosta do estilo, um pesadelo para quem não é chegado em agarras pequenas.

FA: Pedro Nicoloso

“Primo do Sette” IXa

A via “Primo do Sette” segue uma linha por um grande teto, na gruta do Morro, inicia com lances delicados por uma placa até acessar um agarrão, que faz a transição para o teto, sem dúvida é uma linha muito difícil de se avistar devido à movimentação incomum e possuir agarras de difícil visualização.

Para ilustrar a idealização da linha, segue o relato do conquistador André Sette:

“via “primo do sette”, é uma rota que ao olhar rapidamente parece improvável devido a sua inclinação de quase teto e de algumas agarras escondidas. Mas quando deitávamos ao chão para observarmos com calma, a leitura dos movimentos parecia fluir numa sintonia óbvia. Uma Via de grau elevado, de muita força, muito uso de pé alto, requer boa elasticidade e resistência.
Sua equipagem foi toda feita em clifs, indo de baixo passo a passo, grampo a grampo.
Com certeza, uma vía que deveria mesmo existir e fazer parte da historia da gruta.
E me obrigo a dizer que só decidi realmente iniciar os trabalhos por conta de uma persuasão insistente de meu primo, parceiro de conquistas.”

FA: Gabriel Nicoloso

Zico na cadena da “Primo do Sette”

O local ainda conta com alguns projetos aguardando cadenas:

“Uere quer voar” – Projeto

Esse sem dúvida é um grande projeto de via esportiva para ser encadenado. A ideia inicial surgiu enquanto eu e a Fernanda conquistávamos a “Indiana” (VIIb), na pedra do índio. Me recordo de visualizar umas agarras de buraco, bem incomuns pela nossa região. Na época sabia que a linha estava muito acima da minha capacidade técnica, mas desde já decidi que faria a abertura da linha.

Alguns meses após falei com o Flubber sobre o projeto, disse que seria uma via difícil, mas que achava que era possível de ser escalada, ele como sempre ficou extremamente empolgado com a idéia. logo marcamos e partimos para a conquista.

Rapelamos pela linha, analisamos as agarras disponíveis e verificamos que havia uma agarra chave bem solta, que certamente cairia na primeira tentativa de ascensão, descemos e já iniciamos a conquista.

Utilizamos a primeira proteção da via “Indiana”, eu bati a segunda e terceira proteção, desci e passei corda para o Flubber, que bateu as outras proteções. Novamente eu subi e colei a agarra solta e assim finalizamos a conquista da via.

Poucos dias após, Eu o Flubber e vários outros escaladores já iniciaram as tentativas de ascensão. A via possui um visual incrível, iniciando em um vazio a cerca de 20 metros de altura, seguindo por um negativo pelo “queixo” do índio, é uma linha muito concentrada, exigindo muita força e resistência.

Posterior à conquista regrampeamos a via com pinos “twist leg” fixados com químico, no padrão das vias do local.

A pesar de alguns escaladores terem isolado os movimentos, a via ainda seguem sem cadena.

Outros projetos

o local ainda conta com projetos aguardando cadena, como o “dietro teflon” e “titan” na gruta, que tiveram os movimentos isolados mas sem tentativas de cadena.

Flubber no projeto “Titan”,, no setor da gruta.

A localização dos setores do morro pode não parecer tão clara para quem não conhece o local, portanto alguns escaladores podem ter dificuldade em localizar algumas vias sem auxílio, dêem uma olhada no post sobre o Morro das Cabras e boas escaladas.

Sobre o Autor

Alexandre Bered
Alexandre Bered

Operador Aerotático do RS, instrutor de operacões em altura e resgate aéreo da Brigada Militar do RS.

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